terça-feira, setembro 18

La petite boîte bleue (Première Partie)


"É verdade o azul nas coisas dormentes e tristes da vida, nas coisas ausentes, nas coisas perdidas. Também é verdade a cor que o tempo insinua, o azul no espaço infinito do pranto, no eco do grito no vulto de espanto."

Pilar esteve muito ocupada durante a semana, essa noite ela haveria de adormecer sentada numa poltrona lilás com o despertador no colo sem ligar o alarme, adormeceria de cansaço. Sonhou que lavava o rosto devagar, esfregando calmamente cada linha de expressão. Escovou mais uma vez os dentes. Penteou os cabelos fio por fio, num zelo tão indiferente como um processo ritualista do próprio corpo, que ela desconhecia e fazia com tanto prazer que por um momento pensou existir! Sua alma estava trêmula, ela não sabia porque se tocava com tanto amor nem tampouco por quanto tempo. Levantando os olhos pôde se olhar no espelho e levou um susto: o seu reflexo era de uma pessoa desconhecida. Como é que pode não se reconhecer do dia para a noite? E ela não sabia como responder. Acordou com uma sensação estranha, levantou para tomar uma água e foi andando às cegas até o banheiro. Quando chegou na porta não sabia o que queria fazer, então resolveu voltar pelo corredor até a poltrona lilás. No meio do caminho tropeçou em uma caixa enorme. Que diabos essa caixa está fazendo aqui? Ligou a luz no fim do corredor e olhando para aquele embrulho enorme em azul percebeu que não sabia o que era aquela caixa nem o que ela fazia jogada no meio do corredor atrapalhando a passagem para todos os cômodos. Tentou recordar cada passo seu durante a semana, mas Pilar havia feito tantas coisas e estava tão cansada que preferiu deitar em sua cama e finalmente dormir até o dia amanhecer. O despertador não tocou mas ela acordou pontualmente às 6 da manhã, estava mais cansada do que antes, com o corpo dolorido, levantou-se e foi em direção ao banheiro pensando em deitar novamente, dormir mais um pouco e gritar um foda-se bem alto. Esbarrou mais uma vez na caixa enorme com embrulho azul e soltou um berro tão estridente que sentiu o telhado cair sobre sua cabeça, sentou no chão completamente encolhida apertando os olhos, quando voltou a si o teto estava intacto, mas a caixa permanecia ali.

7 comentários:

Anônimo disse...

Passarei aqui depois para ler o que ainda não li. beijos, Aline

Anônimo disse...

Tamara... vc escreve muito bem!
Voltarei para ler sempre.
Admiro pessoas que se expressam com tanta beleza!
Obrigado pela visita no meu blog!
abraços

Verônica disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Verônica Lima disse...

Valeu pelo post.
Você escreve muito bem! Muito bem mesmo. Coisa rara.
Li agora só esse post azul, mas voltarei aqui no final de semana pra ler mais.
Aliás, esse azul é como o azul do Yves Klein. Você já viu? Gosto da vênus dele pintadinha de azul. Azul é uma das minhas cores favoritas.
E eu me reconheci no susto da sua personagem: frequentemente me desconheço ao olhar no espelho. Do nada. Simplesmente acontece. C'est la via, né? :>

fjunior disse...

é estranho mas se a gente não pára e se olha no espelho o risco que se corre é este mesmo, de acordármos num dia qualquer e nem sabermos mais quem somos... o mundo nos muda... as coisas ao nosso redor mais ainda.

Unknown disse...

Quand vient-il le moment d'ouvrir la petite caisse bleue?

Adoro quando vc aprece.
Ansioso pela parte 2...
Um beijo enorme, Val

Gaby Zaupa disse...

*esperando ansiosa a continuação* hehehehe
Esse povo que escreve feito folhetim pra deixar todo mundo morrendo de curiosidade, rapá!
Mas eu gostei do comecinho. Escreve logo o resto, sim? :D
Até. ;*