sábado, novembro 6

O ponteiro acelera e para.

Eu não sei bem ao certo o que tinha acontecido na noite anterior, o que eu sei é que de alguma forma havia uma movimentação intensa e frenética de sombras de pessoas na minha cabeça, pude ouvir uma balburdia antes que eu percebesse que aquilo não pararia até que eu decidisse ficar reclusa dentro de mim. Mas e se minha reclusão pudesse causar minha insanidade? Aconteceu então um desejo intenso de possuir alguém, mas não era desejo carnal, nem emocional, era um desejo de ter alguém em minha solidão. Uma pessoa que fosse solitária assim como eu, que pudesse partilhar das mesmas dores... Mas não era a necessidade dessa pessoa que tomava conta do meu ser, era a necessidade dita na minha fragilidade de poder me encontrar dentro de um ser que se transformasse e mim mesma. Um eu melhor, porque eu era apenas um lixo entupindo meu próprio cérebro, eu era a massa podre em forma de lama entre meu cerebelo e o córtex frontal, em algum lugar entre a esquizofrênia e o suicídio. Então eu tinha a necessidade das horas, dos minutos, dos segundos... de algum tempo que pudesse transformar o meu tempo em paralisia. Quando eu estiver morrendo quero que minha loucura possa ser a sua insanidade, porque em cada pedaço de mim existe um pedaço de você.

quarta-feira, março 24

P.s

Solidão, eu ao encontro dela e ela ao meu encontro. Fujo, me escondo por entre o sussurro, fecho os olhos para a tristeza, e corro - às cegas mesmo - o mais rápido que eu posso correr, sem destino e um ponto de chegada ou de partida. Tenho em mim a dor do mundo, do meu mundo inteiro que me envolve, do beijo não dado, dá palavra presa na garganta, das palavras feridas que sutilmente foram ditas à mim. A dor, e o peso leve da solidão. Tenho a mágoa, o coração sangrando estrassalhado. Como pesa em meus olhos vazios! Ela ao me encontro, e eu ao encontro dela, tantas e tantas vezes que torna-se minha amiga mais íntima, a amiga mais presente. Sinto frio, um frio que vem de dentro, das entranhas, do vento feito por assas de borboletas batendo na parede do estômago. E tenho fome, de afeto, de contato, E tenho muito medo, tanto que mantenho os outros longe de mim, longe da folha caída e seca em pleno outono. Tenho...

sábado, março 20

Pedra, papel e tesoura.

Coragem. Penso assim e é assim que trêmula vago por entre esse caminho abandonado. Coragem, é a palavrinha presente na ausência do meu querer. E eu já não sei mais quem eu sou. É como se um buraco estivesse aberto bem na minha frente, e eu meio bamba para frente e meio torta para trás, no quase entre me afundar e permanecer de pé. E quando é que eu soube? Dia após dia degusto essa minha inquietação interior, e dia após dia tento dia após dia mais um dia após outro dia ir esquecendo que o dia depois desse dia me fará esquecer. E vou seguindo, lembrando e esquecendo de mim mesma, de quem é que eu saiba que eu sou. Tento, mas não consigo, permaneço angustiada mesmo parecendo serena. O meu retrato é o espelho patético da imagem que penso ser adequada pra uma pessoa sã. E quem é que eu quero enganar?