sexta-feira, julho 29

Meu estar...

Sei que estou errando, que sou o avesso a minha aversão, mas é que tenho o desejo do imprevisível e do improvável... tenho um desejo ardente que faz com que eu erre, sempre que quero acertar no alvo do meu coração que acerto, no fim das contas é ele que fica sangrando, no fim das contas quem paga o pato sou eu. Sempre sento na beirada da mesa e não tenho mais saco para aquela piadinha infame. Mudei tantas vezes, a coloração do cabelo, de lugar, de maquiagem, tantas vezes que perdi a pele, mudei de corpo. Hoje eu sou vulgo, a minha autenticidade é a vulgaridade alheia. O meu vulgo é o seu estar. Sei como é ser você tirado das suas próprias entranhas. Busco corromper os laços do meu desejo insano de ser, porque eu busco e por isso eu não encontro. Já enlacei meu estômago tão forte que ficou difícil respirar. Não sinto mais tanta dor. O que eu sinto é um desejo errante de vomitar minha alma, apalpá-la e botá-la dentro de uma redoma. Todos os dias eu quero cutucá-la e dizer: "vem, que hoje eu estou pronta".

sexta-feira, junho 17

Désir sans fin


Foram palavras ditas num silêncio absoluto, jogadas diante de um vendaval que ultrapassava seu corpo como uma brisa leve e não poderia nunca, nunca, nunca, bater em seus cabelos dourados. No fundo ela sabia que mais cedo ou mais tarde o segredo seria revelado. E quando isso acontecesse ela só poderia se agarrar às suas lágrimas.

-Outro dia eu estava olhando por entre minha janela e vi ela caminhar sozinha a noite. Ela estava olhando o céu!!

Todos poderiam ver claramente aquele desejo em seus olhos, era um olhar profundo e inconstante, mas era um olhar que transmitia uma intensa calmaria. Eu me indagava sem parar, olhando aqueles olhos que não me olhavam. Que agora estavam fitando a lua cheia, acho que ela comeria aquela lua e jogaria apenas o pedaço crescente de volta ao céu. Ou partiria meu coração em gotas de chuva. E choveria, o escarlate dos desesperados.

-Você não vai fugir? Não está com medo?
-Muito, queria muito fugir. Mas não sei...
-Fique, confie em mim...

Eles sentaram e esperaram, esperaram, esperaram... Nada acontecia

-Talvez ela tenha desistido de se apaixonar.
-Não, acho que não. Essas coisas demoram às vezes.
-O que você...
-Quieta! Vai começar.
-Começar o que?
-Olhe. O céu vai mudar de cor, aos poucos toda luz que refletir transformara o verde em cintilante. Haverá uma infinidade de gatinhos ronronando. Todas as nuvens terão formas decifráveis e serão saborosas como algodão doce. Quando anoitecer a brisa terá o cheiro de damas da noite. E ficaremos entorpecidos! Da última vez que isso aconteceu esse foi o lugar mais lindo de todos os tempos, mas os riscos existem e são enormes.
-Nós deveríamos fugir?
-Eu prefiro correr o risco. Pode ser que tudo seja destruído com muito mais força dessa vez, e só reste pó. E você, o que prefere?
-Eu não sei. Mas agora, agora mesmo, por favor eu te imploro, me diz qual caminho devo tomar. O chão vai se abrir e você não me ensinou a tirar os pés do chão.
-Shhhhhhhhhhhhhh, olha como o chão está desmoronando. Logo tudo que nos conhecemos deixará de existir. Daqui a pouco caíra um temporal atemporal.
-Eu não quero.
-Você não tem mais o que querer.


terça-feira, junho 14

Sal.

Eu já perdi as contas de quantas vezes minha comida foi temperada com lágrimas.

quinta-feira, maio 26

Pedaços



Quando escrevo, tento acima de tudo, acima de qualquer coisa, ser honesta. E isso é aterrorizante!

Eu tento mostrar os pedaços que me movem, porque eu preciso desesperadamente mover os outros. Eu sofro por compartilhar e por saber demais de mim mesma. Eu te toco de alguma forma? Somos iguais? Nisso e em nada mais?

O que eu admiro tem coragem, quase sempre. A forma humana me comove. No amor ofegante ou na dor da ruptura sem fim.

The weight behind me feels like old stone driven to its shape; relentless and implacable.

And perhaps you will see, and know, because of the deep scars that you wear upon your heart.

Eu tento fazer coisas bonitas. Tento fazer algum sentido. Eu tento viver com tudo que tenho porque viver é tudo que tenho. Our time is our own.

Eu preciso compartilhar desesperadamente...

The stunning miracle of chance that we are.

vehemently.

segunda-feira, maio 23

Jornada sem fim.




Minha viagem é silenciosa. Às vezes eu calmamente espero na fila, às vezes eu fecho meus olhos e deixo o balançar do vento me sussurrar contos sobre mundos fabulosos onde o futuro é doce e livre. Minha jornada é infinita: fear and desire to cross the line crash into me, tormented by the dread of limits and by the pleasure to break them. Minha jornada é circular: a busca incessante para aquele elemento em falta que poderia me fazer completa e, ao mesmo tempo um desejo eterno oculto que eu poderia perder esse elemento para sempre, para que eu pudesse continuar minha jornada. Um caminho sem começo e sem fim. Minha viagem é feita de ar... I close my eyes and fly.

terça-feira, abril 19

Real Dream.


Come here my love,
Wake up!
Come undress my skin,
Put it in the sun and let it sit in our dream.
Come see the world growing within me.

Come live with me, my love,
And if your body become imbalanced,
I will be your foundation.
Use my shoes,
And walk with my steps.

Come here, my love.
Leave the door open.
Meet me before your smell in my hair and my hands go away within me.
Come with me into this life

Come here, please wake up.
Help me to resolve this tangle of belongings
Come into my mind in half a day and love me in the middle of the night.
Kiss me while my heart beats for you.

quinta-feira, abril 7

Pre(re)paração




Tocaremos o nosso barco em frente e atravessaremos o oceano, navegando por entre tempestades em noites escuras até o fim do mundo, se for necessário. O nosso fim do mundo. Não é mais necessário porque saberemos então que todo fim encontra-se em volta da circunferência inicial. Não teremos medo. Por mais que nossos olhos possam transparecer o quanto tememos ter que remar sozinho, não teremos medo. Eu quero chegar ao meu porto seguro com velas de cetim, a viagem tem durado tanto tempo que o meu barco já está azul do mar. Nos camuflaremos por entre as vírgulas e esqueceremos do ponto final. Precisamos nos afogar em nossa vastidão e experimentar o que é nosso por direito de ser. Sou a chuva tempestiva, a ventania solta e não temo o escuro da noite. Seremos fortes o suficiente para não temer pisar em nossa sombra. E se olharmos para cima veremos o mar cair sobre nossas cabeças. A(mar) e conhecer a dimensão do horizonte. Encontrar-ancorar.


terça-feira, janeiro 18

O regresso.


Nem ontem nem amanhã, só existe agora, repetia Maria antes de aproximar-se da porta de mogno envelhecido que vivia destrancada. Olhou atentamente para o cinzeiro imundo, cheio de cinzas e restos de cigarros, que ficava sobre um criado-mudo art nouveau ao lado esquerdo da porta. Não havia sol, hoje não havia sol. Como é possível saber o que fazer quando não existe nada a ser feito nem nenhuma direção? Ela podia sentir seu coração batendo bastante acelerado, seus olhos estavam um pouco mais abertos que de costume e sua mão gelada suava muito. Tomou coragem e deu alguns passos em direção a porta, como se fosse hesitar e retroceder ao ponto inicial, mas continuou indo até conseguir alcançar o maço de cigarros e a caixa de fósforos sobre o criado-mudo. Dando uma última olhada no objeto onde deita-se as cinzas, fechou os olhos e trouxe para perto de seu coração o maço e os fósforos, apertou forte contra o peito e suspirou um ar tenso. Virou seu corpo vagarosamente até estar completamente de costas para a porta e de frente para a janela, caminhou até sua velha cadeira de balanço e sentou-se da mesma maneira que fazia sempre, mas não como deveria ter sido feito. Do ângulo que ela estava era possível ver o movimento da rua, movimento este que não havia, poderia acompanhar os raios de sol entrando por entre sua casa e ver a chegada de seu gato persa, se ele chegasse. O gato sumia sempre e sempre voltava com aquele arzinho de desdém. Maria o achava elegante, embora gordo e velho demais ele tinha uma pelagem sedosa e bonita, mas o que a intrigava mesmo era aquele par de olhos alaranjados. Retirou com os dentes um cigarro do maço e o trouxe próximo as suas narinas, inspirou fundo sentindo o gosto de tabaco forte então começou a vagar por seus pensamentos embalada por sua velha cadeira de balanço. Um dia hei-de ser pó, cinza e mais nada. O dia ia anoitecendo, ia anoitecendo muito cedo, ia escurecendo lá fora e aqui dentro e eu ia dia, ia...