sexta-feira, junho 17

Désir sans fin


Foram palavras ditas num silêncio absoluto, jogadas diante de um vendaval que ultrapassava seu corpo como uma brisa leve e não poderia nunca, nunca, nunca, bater em seus cabelos dourados. No fundo ela sabia que mais cedo ou mais tarde o segredo seria revelado. E quando isso acontecesse ela só poderia se agarrar às suas lágrimas.

-Outro dia eu estava olhando por entre minha janela e vi ela caminhar sozinha a noite. Ela estava olhando o céu!!

Todos poderiam ver claramente aquele desejo em seus olhos, era um olhar profundo e inconstante, mas era um olhar que transmitia uma intensa calmaria. Eu me indagava sem parar, olhando aqueles olhos que não me olhavam. Que agora estavam fitando a lua cheia, acho que ela comeria aquela lua e jogaria apenas o pedaço crescente de volta ao céu. Ou partiria meu coração em gotas de chuva. E choveria, o escarlate dos desesperados.

-Você não vai fugir? Não está com medo?
-Muito, queria muito fugir. Mas não sei...
-Fique, confie em mim...

Eles sentaram e esperaram, esperaram, esperaram... Nada acontecia

-Talvez ela tenha desistido de se apaixonar.
-Não, acho que não. Essas coisas demoram às vezes.
-O que você...
-Quieta! Vai começar.
-Começar o que?
-Olhe. O céu vai mudar de cor, aos poucos toda luz que refletir transformara o verde em cintilante. Haverá uma infinidade de gatinhos ronronando. Todas as nuvens terão formas decifráveis e serão saborosas como algodão doce. Quando anoitecer a brisa terá o cheiro de damas da noite. E ficaremos entorpecidos! Da última vez que isso aconteceu esse foi o lugar mais lindo de todos os tempos, mas os riscos existem e são enormes.
-Nós deveríamos fugir?
-Eu prefiro correr o risco. Pode ser que tudo seja destruído com muito mais força dessa vez, e só reste pó. E você, o que prefere?
-Eu não sei. Mas agora, agora mesmo, por favor eu te imploro, me diz qual caminho devo tomar. O chão vai se abrir e você não me ensinou a tirar os pés do chão.
-Shhhhhhhhhhhhhh, olha como o chão está desmoronando. Logo tudo que nos conhecemos deixará de existir. Daqui a pouco caíra um temporal atemporal.
-Eu não quero.
-Você não tem mais o que querer.


terça-feira, junho 14

Sal.

Eu já perdi as contas de quantas vezes minha comida foi temperada com lágrimas.