terça-feira, outubro 24

A luz dos postes da rua varava pelas frestas da persiana...

Pergunta (Al Viento) - Gabriela Muollo

A luz dos postes da rua varava pelas frestas da persiana velha e gasta pelo sol. Levantei-me tentando lembrar cada milésimo de segundo da noite retrasada. Toquei levemente um pedaço rasgado da persiana, afastando um pouco para enchergar lá fora. O sino dos ventos tocava uma melodia doce e o céu estava incrivelmente alaranjado. Era possível ouvir o vento soprando solto pelas árvores. Dei uma olhada em direção ao telefone pensando em ligar para ele e dizer que ontem eu havia tomado o melhor banho de chuva da minha vida e que olhando para aquela cor alterada do céu eu pensava qual seria a cor daqueles olhos agora. Naturalmente esverdeados de alegria ou manchado de mel em sinal de sentimento de mau presságio, olhos mornos, um pouco expectante. O fato é que não liguei e ainda me esforçava para lembrar os detalhes do domingo. Coloquei uma música do Kaiser Chiefs, fui para a cozinha fazer um chá verde, e quando abaixei-me para pegar uns biscoites senti minhas costas doloridas. Uma queda.

A chuva veio de mansinho, poucas gotas miúdas desabando no asfalto e no teto dos carros estacionados. Um cheiro de terra molhada entrando pela janela e o vento batento nas folhas verdes das árvores. Um balé de sincronia e delicadeza. Rapídamente a chuva começou a engrossar. O vento balançava a janela e o barulho invadia a sala. Foi me dando uma vontade enorme de sair correndo que nem criança no meio daquela tempestade. Intimei minhas amigas e sem pensar duas vezes abri a porta de casa, desci as escadas correndo e me enfiei na chuva. Gotas grandes massageando meus ombros. Em apenas alguns segundos eu já estava encharcada e a do signo de Áries, dessa vez nitidamente decidida, chegou bem perto de mim. Peguei em sua mão e saimos correndo. Olhei para o céu e vi gotas do infinito caindo. Eu pulava nas poças d´água e elas iam fazendo pequenas ondulações que nem pedra jogada no rio. A do signo de Câncer, se dando a liberdade de fazer uma pequena loucura, e Libra, agindo pelo bando um pouco preocupada com uma suposta gripe, se aproximaram. E tudo aconteceu tão rápido e de repente. Juras de amor na chuva.

Fiz mais um pouco de chá verde, acendi um cigarro do filtro vermelho. Um vento gelado entrou pela janela batento nas minhas costas. Fechei a janela para não pegar um resfriado e no caso de chover para não molhar a casa. Lembrei também que levei um queda e por isso essa dor nas costas. Acendi um incenso de flor de pitanga dando mais uma olhada naquele céu laranja. E pensei naqueles olhos. Decidi ir dormir.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tamara, que bela descrição! Quer dizer que as do signo de libra se aproximaram... Senti-me mencionada. :P beijos,

Filipe Malafaia Cerqueira disse...

Extasiante! Realmente sensitivo, quase pude sentir as gotas sobre mim... Belo texto!

Anônimo disse...

gotas do infinito... nunca mais pare de escrever! =*********