segunda-feira, outubro 16

E o que virá depois.


Havia pedaços pequenos rasgados de uma folha branca, com escritos em tinta negra pelos tacos do chão do quarto, estes retangulares encaixados simetricamente. Uma rosa vermelha seca sobre um bilhete velho na escrivaninha de madeira. No tripé um quadro em aquarela com berrantes cores primárias. Um bocejo. Sem vontade nenhuma de saber o que o tic tac do relógio marcava olhei para o lado, e fiquei assim sentindo o momento no tempo presente. Fechei os olhos vendo uma cena em que eu estava sentada acendendo um cigarro. Um clique seco, tragada funda e o primeiro sopro. Suspiro de culpa. Pensava olhando para o cigarro, que deveria parar de fumar e que certamente aquela noite teria insônia. Tive uma vontade súbita de ligar para minha mãe e dizer que tinha me rendido mais uma vez ao gosto do tabaco forte.

Esfreguei os olhos logo após dar uma espreguiçada, virei para o lado e me surpreendi alucinada. Havia pedaços pequenos rasgados de uma folha branca por todo o quarto. Uma rosa vermelha seca no chão e um quadro em aquarela com berrantes cores primárias. Subitamente peguei minha toalha e corri para o banheiro. Água fria. Sentei no chão sentindo os pêlos do meu corpo se arrepiarem e meus ossos estalarem, coloquei a mão na cabeça em sinal de desespero e pedi para acordar daquele pesadelo. Dei uma olhada nas minhas unhas. Vermelho, amarelo e azul. Água quente. Levantei sentindo minha musculatura relaxar. Deveria haver alguma espécie de sentido naquilo tudo, pensei.

Terminei o banho e fui até meu quarto. Aquilo certamente era um pesadelo, mas eu já estava acordada. Vesti uma roupa e me coloquei a catar os pedaços de papel. Coloquei todos dentro de um saco plástico juntamente com a rosa seca, joguei sobre a cama. Dei uma olhada rápida no quadro, toquei no canto inferior e percebi que a tinta ainda estava fresca...

4 comentários:

fjunior disse...

gostei da explicação acerca do cigarro, um suspiro de culpa... esta é a definição mais poética acerca de um vício que já ouvi...

Anônimo disse...

Olá, Tamara! Vi que vc me visitou e vim aqui retribuir... Estamos no Distrito Federal. Quando quiser, retorne. bjs,

Anônimo disse...

Valeu por me adicionar. Farei o mesmo. beijos,

Helen Carolina disse...

Olá moça vim pelo blog da Aline te visitar , gostei da forma como vc trabalha as cenas e como é interessante visualiza-las. Um texto dolorido e por isso tão humano. bjs